quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ultimo momento Bon Vivant

Foi ontem, na Livraria Cultura do shopping Villa Lobos, que o projeto Bon Vivant soprou em meus ouvidos pela ultima vez. Foi rápido e calmo, como qualquer boa despedida. Fez-me sentir que cumpriu sua missão, que já é hora de descansar. Mais uma coisa em minha vida que cumpre seu papel. Meu sentimento? Paz.

O Bon Vivant nasceu em uma época que já não vivo, e para cumprir um objetivo que já foi alcançado. Mais que seus textos, o conceito em que ele se baseia continua sendo meu, mas deixou de ser prioridade. A falta de tempo para o projeto não foi o motivo para sua despedida, mas uma ultima desculpa. Afinal, quando queremos, temos tempo para tudo.

A grande verdade é que o Bon Vivant não é do João, mas das pessoas que fazem parte da vida dele. A maioria absoluta dos textos foi escrita com cuidado, com nomes sendo trocados e histórias amenizadas. A exposição, minha ou de qualquer outro, trabalhada com atenção. Por isso o carinho em cada linha, tentando entender o que podia ou não escrever.

Foi gostoso. Mais! Delicioso. Cada uma das histórias me fez reviver momentos mágicos, pessoas especiais e lembranças que gostaria que se tornassem permanentes. Quantos deles censurados antes mesmo de publicados? Confesso que achava ruim, mas aceitava e compreendia os motivos. Não ter os publicado, mais que correto, foi um carinho para quem não os queria.

Mas minha vida tomou novo rumo, pegou atalhos diferentes e descobriu novas necessidades que não se alinham ao Bon Vivant formato blog. O conceito continuará nos bares, ao lado das pessoas que quero e nos novos projetos. Apenas não mais terá exposição.

Obrigado a todos e... bom dia, boa tarde e boa noite.

sábado, 30 de agosto de 2008

Um péssimo hábito mundano

Casa da sogra foi bem antes. Agora tava virando um puteiro. To falando do meu Orkut, mesmo. Tive que ir contra tudo que acredito e bloquear acesso. Coisa triste para um cara que sempre foi bastante acessível e nunca colocou barreira para pessoas. Mas tive que fazer.

Minha relação com Orkut é gostosa, pois nele concentro o que tenho de mais valioso: as pessoas que realmente amo. Com ele mantenho meus relacionamentos de amizade, troco mensagens com pessoas queridas e fico sabendo de datas que são importantes: os aniversários das pessoas que me fazem bem.

Justamente por isso, meu Orkut é meu. Não deixo que desconhecidos me adicionem e não adiciono a eles. Quem está lá tem alguma história que viveu comigo para contar. Ela pode ter sido boba, durado alguns segundos, mas existiram. Ali não vejo fotos de rostos sorridentes, mas a minha vida, minhas histórias e a possibilidade de viver novos momentos bons junto a eles.

Sou um doido apaixonado por pessoas, e por elas tenho o maior respeito. Este é o segundo motivo para cuidar de quem faz parte do MEU Orkut. Seria justo colocar a namorada e os grandes amigos no mesmo saco dos que aparecem ali apenas por aparecer? O Okut tem o péssimo hábito mundano de transformar pessoas em números. “meus amigos (419)”? Preferia apenas “meus amigos”.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Um amigo gigante

Meus amigos não tem defeitos. Tem características. Por ai dá pra entender a relação que tenho com eles. São parte importante da minha vida. Importante? Fundamental! A ausência deles, quando por muito tempo, causam certo estrago. Talvez por isso os dê tanto valor. E, justamente por isso, recebo de troco a mesma moeda. Nem mais nem menos. Tenho, realmente, amigos diferenciados.

Estava trabalhando quando Felippe me chamou no Messenger. De Londres, escreveu que estava breaco por conta de uma garrafa de vinho. Por conta disso, com muita saudade. Completou que volta em dezembro e preciso estar no aeroporto. Estarei... Lembro quando fez um churrasco de bota-fora. Viajaria junto com o KK, um irmão de fé, risos e todas as boas coisas da vida (sabíamos viver...). De presente, dei um livro: “Como conviver com um idiota”. Devem ter lido por algumas vezes. Moram juntos até hoje e não temos divórcio à vista.

Com o Felippe tenho grandes histórias. As pizzas do Aerobeer, as noites nas baladas fáceis (bota fáceis nisso), as reuniões do TCC que sempre começavam com picuinhas e terminavam com risadas, os pagodes, as viagens para os JUCAs e todas as confusões que nos metíamos por lá... Mas, de verdade? Nada marcou mais que a noite em que apresentamos nosso TCC. Com orgulho, afirmo que o palco da Gazeta ficou pequeno. Estávamos, verdadeiramente, gigantes.

Dividir o palco com o Felippe, mais que uma obrigação, foi mágico. Parecia ensaiado: as piadas, as risadas, o desfile e até a dançadinha. No palco, estávamos em casa. Não parecia um TCC, mas uma grande festa com direito a risos dos convidados. Acabamos a apresentação como deveríamos: chorando como gente grande. Chorando porque, com apenas vinte e poucos anos, já sabíamos que o bom da vida não é o destino, mas a estrada. E... Como a estrada foi boa...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Um post supérfluo

Comecei com cigarrilhas, depois passei aos charutos. De princípio, uma vez na vida outra na outra vida. Hoje confesso certa regularidade. Charuto, para muitos, é algo sedutor. Para mim é um ritual romântico. É abrir, furar com cuidado, acender com uma palha (quando tenho a palha) e cuidar para que o tempo passe de forma lenta.

Amigos não tão próximos dizem que fumo por charme. Talvez tenha até vivido esta fase, mas certamente já passou. Costumo fumar só. Entro na Ranieri, pego um Dona Flor, fecho a porta do carro e saio por ai. Sou contra fumar em casa. O romantismo típico do charuto desaparece quando em casa. Gosto de fumar em cafés. Harmonizando com a namorada na praia, um Dona Flor fico delicioso.

Charuto, por si, pede respeito, pede cuidado. Não se fuma na balada, não se fuma em locais que possa incomodar aos demais. Se fumo para ter prazer, não posso tirar o prazer dos outros. Então, opto por também fumar em tabacarias. Lá, asseguro que o prazer do charuto é dobrado. Estou na sua casa, ao lado de pessoas que o respeitam da forma que ele merece.

Um post sobre charuto pode parecer demais supérfluo. Não para mim. Mais que um prazer ou um estilo (como pensam alguns), é uma forma de encarar o dia a dia. O charuto, duas vezes por semana, serve como um companheiro fiel. No fim do dia, seja com a namorada, sozinho ou com amigos, ele estará lá. Com seu furador, sua palha, seu cortador e todo seu carisma.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A menina do trem

Existe uma propaganda de carro que me marcou bastante. Um rapaz caminhava ao lado de personagens de desenhos animados e outros do gênero até entrar em um esportivo mais sério. Então o locutor falava algo como “a sua vida te trouxe até aqui”. O conceito da propaganda é genial. Hoje me sinto como o homem que abre a porta do seu carro.

Quantos medos, quantas pessoas ruins, quantas tardes de tempestade e quantos gritos? Mal sabia, mas foram estas linhas tortas que me trouxeram para onde estou. Quantos beijos? Quantos abraços quentes? Quantas risadas em mesas de bar? Quantas lágrimas que fugiam sem pedir desculpa? Mal sabia, mas foram estes momentos que, somados aos outros, me fizeram o que sou.

A vida tem me ensinado bastante. Uma das maiores lições é que ela chega sem pedir licença, faz o que bem quer e se coloca de lado, como aquela menina manhosa da estação de trem... Depois, reparamos que ela ajeitou tudo. Colocou cada coisa em seu lugar, e que agora é sua vez de continuar. A vida, somada a tudo que vivi, me trouxe até aqui.

Tenho ouvido muitas coisas e conversado com pessoas. Ouço histórias aos montes, até mesmo porque gosto de contar as minhas. Noto que a vida é uma mãe. Pode ser dura, pode nos colocar de castigo, mas sempre nos acolhe. Hoje agradeço a esta mãe por tudo de bom e de ruim que passei. Somente tendo vivido tudo aquilo, tenho a cabeça boa para decidir e viver tudo de bom que esta mãe ainda tem a me oferecer.

PS. um amigo diz que todos meus posts tem o mesmo objetivo. Um simples “seja feliz”. Acho que a idéia é essa. Ao falar de relações humanas, torço por relações gostosas. Tão gostosas quanto as minhas. Pois é, meu amigo... Seja feliz.

PS2. Escrevi este post em 4 minutos, cronometrados. Ele não é um post, mas um texto que diz “sim, o blog está vivo”. Amanhã ela volta ao seu normal.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Um pouco mais de todo mundo

Sou privilegiado e nunca neguei isso. Como outros tantos, percebo diariamente o quanto sou amado e o quanto sou querido. Melhor é saber que estes tantos que me querem recebem o sentimento de volta. De volta? Não. Recebem algo único, renovado. Falo não só da minha família, namorada ou amigos, mas também das pessoas comuns do cotidiano. O manobrista do estacionamento, os garçons dos bares de sempre e os colegas de trabalho.

A diferença que noto entre amigos e eu, é que tenho consciência do privilégio em ser querido. Querido e amado, na verdade, todos o são. Entender que o é e aceitar e viver esta situação com graça que é para poucos. A verdade é que é difícil amar, e ainda mais complicado se entender amado. Nos dois casos, somos levados a ceder, a relevar e a assumir. Noto que, quando respondo positivamente a uma atenção, quando me coloco a disposição, ainda causo certa surpresa.

Nos estacionamentos, meu carro sempre é o primeiro a chegar. Nos bares, minha mesa normalmente é a de melhor atendimento. Meus amigos nunca negaram atenção ou um longo bate-papo. Percebo que, ao oferecer atenção a todos, todos voltam sua atenção a mim. Ao ser simpático, recebo simpatia em dobro. Mais bacana que isso, descobri que ao amar aos outros, eles perdem o medo de também amar. Amar, simplesmente, no sentido de ser um pouco mais eles.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Os meninos de 59

Tabacarias são lugares especiais por conta das pessoas que a freqüentam. Normalmente, gente diferente, que fala, que pensa e que sabe ser feliz. Agenor é uma destas figuras que vêm à memória quando lembro a tabacaria do centro. Aos 92 anos bem vividos, cirurgião aposentado, é apaixonado pela dona Luiza, sua esposa mais jovem – talvez uns 90 anos também bem vividos.

Na tabacaria, Agenor era minha companhia preferida. Conversávamos de tudo, mas principalmente sobre o futuro. O futuro que esperava por ele e por mim. Dois jovens que, com a idade somada e dividida, chegavam aos 59 anos. Idade perfeita para pensar no que a vida ainda tem a oferecer. Na ultima conversa, juntamos 4 pessoas para lembrar Gonzaguinha. Com aquela voz cansada, Agenor sabia como cantar “Você Merece”, uma referência ao passado que já não valia tanto. Havia realmente passado.

Era sempre o ultimo a ir embora. Talvez fosse o primeiro a chegar, também. Quando saia antes de mim, era porque a “menina dos seus olhos” (como chamava Luiza) o chamava. Tinha orgulho em, depois de 60 anos de casado, ela dizer ao telefone que ele precisava voltar para casa para matar as saudades dela.

Vez em quando a realidade pode ser mais bonita que realmente é, por isso, digo a todos que Agenor largou o tabaco. Parou de fumar e de fazer planos para o futuro. Luiza agora terá que se entender com a saudade e suas lembranças, não podendo pedir arrego, que Agenor volte para casa. Agenor, desta vez, resolveu mudar o rumo da história: não quis ser o ultimo a ir embora.

OBS. Este foi o post mais difícil, o que mais provocou sensações contraditórias. Agenor faz e continuará fazendo grande falta. Não só pela sua alegria, sabedoria e delicadeza com as pessoas e as palavras, mas pelo exemplo de pessoa feliz, que não encana com problemas pequenos. Sinto falta de Agenor e dor por Luiza. Tenho certeza que, aos fechar seus olhos, a “menina dos seus olhos” se apagou junto a eles.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Somente um café

Talvez não com medo, mas estupor. Algumas notícias são recebidas assim. A morte de uma pessoa que tinha os bilhetes do cinema do bolso, o fogo que até então não existia, as palavras que naquele momento ainda não representavam grande coisa. Qualquer informação que nos torne minoria causa isso: estupor.

Sou verdadeiramente apaixonado por pessoas. Meu maior prazer é conhecer e falar com elas. Se é sobre o tempo, se é cutucar quanto a falta de uma aliança, se é perguntar o motivo daquele sorriso malicioso, não importa. Mas admito que muitas vezes coloco em dúvida a tal da inteligência humana.

Coloco em dúvida a minha própria inteligência, vez em quando. Quando a falta desta tal inteligência humana se apresenta, tenho medo. Fico rendido apenas à emoção. Pior! Aos monstros dos nossos armários. Mas não sou apenas eu. Somos todos assim, por mais que não notemos.

Cazuza dizia que os ignorantes são mais felizes. Não falava dos ignorantes em educação, mas os que simplesmente ignoram algumas informações. Debati, tantas vezes, este assunto com amigos. Nunca gerou a polêmica desejada, mas nos levou a conclusões burras. Burras por serem unânimes.

Felicidade ao contrário

O que faz você feliz? Ontem escrevi sobre saudade, e como ser feliz pode ser simples. Ao meu ver, um texto bobo, que não fede nem cheira. Mas rendeu bons e-mails. Três leitores comentando a colocação “basta tirar os maus pensamentos, os maus sentimentos e as más pessoas de perto”.

Frase simples jogada em meio a algumas linhas. Talvez por ser uma colocação tão verdadeira, tão evidente, tenha gerado comentários. E eu respondo aos e-mails por aqui: sim, é possível viver sem os maus pensamentos, os maus sentimentos e as más pessoas. Basta começar de trás para frente.

Comece se afastando das más pessoas. Com isso, logo estará longe dos maus sentimentos. Sem estes sentimentos, evidentemente abrirá mão dos maus pensamentos. Minha regra para ser feliz é essa, e é simples: fez mal, pára. Noto como sou uma nova pessoa depois de viver com esta “norma”.

PS. Nunca havia respondido e-mails sobre post com um post. Talvez tenha sido um pouco deselegante, mas a forma mais fácil de resposta. Afinal, se o tema central do blog é relação humana, os remetentes dos e-mails hão de entender.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

72 horas por dia

Realmente acreditava que saudade era algo que serve apenas para fazer mal, para chatear. Como não aceito nada nem ninguém que possa me fazer mal, optei por não ter mais saudade. Hoje iria escrever sobre cabeças, mas digito sentimentos. A saudade agora bateu forte e de maneira inusitada.

Estava saindo para tomar café quando, fuçando a máquina, encontrei fotos de meses atrás. Vi foto de quem pensei que teria saudade, mas não tive. Tive sim, e muita, saudade de quem não esperava ter. Me surpreendi positivamente. Minha barba não estava lá. Os cabelos, bem curtos. O sorriso de menino feliz. Foto de tão pouco tempo, e eu era outra pessoa. Ontem, conversando com uma amiga especial, disse que venho envelhecendo 72 horas por dia.

Ao meu lado, nas fotos, pessoas que certamente não importam em ter seus nomes citados. Rafael, KK e Marmota. Caramba! Era a despedida dos dois últimos - estavam deixando o Brasil. Não sinto falta, exatamente, deles. Sinto falta daquele dia. Depois de anos sem estarmos juntos, conseguimos nos ver: os quatro juntos. Depois daquele dia, não mais. Cada um em um canto. Saudade...

Gosto do modo de como a vida funciona. As pessoas bacanas estão sempre presentes, mesmo que apenas em pensamentos e lembranças. É como se não tivessem ido, é como se a roda que faz o mundo girar estivesse a nosso favor. É como se, de alguma forma, os pensamentos bons se encontrassem.

Cada dia tenho mais certeza: ser feliz pode ser bastante simples. Basta tirar os maus pensamentos, os maus sentimentos e as às más pessoas de perto. Ao mesmo tempo, trazer para junto apenas o que lhe faz bem, conforta e sorri. Mesmo que como saudade. Saudade porreta de boa. Saudade internacional.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Trabalhos estranhos / Sou o Batman

Uma amiga da irmã de um grande amigo (sim, parece a história do primo da tia do meu vizinho, mas é real) tem um trabalho único. Ela cobra uma grana alta pra ir até a sua casa, abrir seu guarda-roupa e jogar as roupas fora. Claro que estudou para isso. Afinal, jogar roupa fora não é pra qualquer um. Deve cobrar caro pois é um trabalho de risco. Ultima vez que minha mãe jogou uma camisa no lixo só não levou um croque por fazer parte da minha árvore genealógica, e sou totalmente contra o desmatamento.

Outro amigo tem um emprego mais original. Ele te chama prum bar, prova com todas as letras e números que você tem uma vida de merda, depois te leva pro consultório pra tratar. Eu mesmo, toda vez que saio do bar com ele, me sinto uma aberração. Deve ter conseguido muitos pacientes assim. Normalmente, os que ficam impacientes nos bares. Mas, por amizade, eu aviso: os conselhos dele também são uma merda.

Ultima vez, me aconselhou a ir para uma festa a fantasia vestido de Batman. Por ser meu amigo, ele mesmo me alugaria a fantasia. Como todo doido tem um amigo pior, topei. Não sabia que a roupa colava no corpo, e que a cuequinha preta apertava tanto. Entendi porque o Batman usa máscara: constrangimento. Pra piorar, pediu que eu fosse buscar ele em casa para a festa. Cheguei lá e o doutor estava fantasiado de melancia.

Dez minutos depois um amigo em comum, que iria pra mesma festa, telefonou. Tinha sido detido pela policia por estar com a carteira de motorista vencida. Fomos para a base da policia, em Perdizes. Eu de Batman, ele de melancia. Chegamos lá e encontramos o terceiro sentado no canto, claro, fantasiado de príncipe. Engraçadinho, desci do carro com a fantasia de Batman, olhei para o policial e disse: “Boa noite. Vim salvar o príncipe”. O policial me olhou, estendeu a mão e riu. Sem perder a compostura, prossegui: “Fique tranqüilo, caro policial. A melancia leva o Batmóvel para a batcaverna”.

Minha criança

O Bon Vivant é um dos meus projetos mais egoístas. É escrito por mim e para mim. É um exercício mental, uma forma de manter a cabeça ativa para temas leves e despretensiosos. É uma forma de colocar o mundo que acredito na internet. Não foi criado para gerar receita, aplausos ou troca de recados. Nasceu aos poucos, assim como as idéias mais teimosas. Mas tem dado frutos.

Brinco que o Bon Vivant tem um público ímpar, que grandes marcas adorariam poder contar. Quem me escreve para comentar textos, quem me fala dos posts em bares, quem me liga para pedir temas... Caramba! Pessoas inteligentes ao cubo. Pessoas que me fazem ter medo de publicar alguma bobagem. Uma delas é a Juliana (dona dos melhores textos que li, e do coração – inclui o corpo – de um grande amigo), que mandou um e-mail super bacana. Pedi autorização para publicar um dos parágrafos. Coisa de pai de blog. Pai orgulhoso pelos amiguinhos do filho.

“Um mês de Bon Vivant! Um upgrade do Meio Despretensioso ou um downgrade das suas conversas de bares? Tanto medo de publicar o que queria, relutou, relutou e deu um OK para publicar um meio termo. Mentira. Ficou tão light que nem parece o projeto que vi. Leio todos os dias! Amigas também. Amigas de amigas, idem e bidem! Mais uma das suas idéias que dá certo. Medo das suas idéias... Lembra quando começamos a trabalhar juntos e pedi sorte? Disse que ‘não deseja sorte a quem tem brilho’. Pois então, deixe a sorte de lado durante os próximos meses de Bon Vivant! (...)“ Juliana Silveira

Obrigado, minha pequena gigante. Melhor: minha não. Do Gaspar...

sábado, 26 de julho de 2008

Amizade com começo, meio e fim

Chegou calma, pegou um whisky 8 anos e sentou na mesinha baixa que fica ao lado do balcão. Deixou a bolsa marrom na cadeira ao lado e a puxou para perto. Mexeu um pouco o copo e levou para perto do nariz. Voltou ele à mesa e passou as mãos no cabelo. Se levantou, tirou a jaqueta jeans branca – que harmonizava perfeitamente com os tons claros do cabelo -, e voltou a sentar.

Eu estava na mesa alta do outro canto, quase saindo. Tinha resolvido fumar um charuto na tabacaria por meia hora, antes de seguir ao bar onde encontraria os amigos. Resolvi pedir uma água para espiar um pouco mais aquela garota mulher. Foi quando ela tirou Otelo da bolsa. Pensei “bonita e inteligente, de certo tem chulé".

Esqueci a lei seca e pedi o mesmo whisky que ela tomava. Pedi licença e sentei a sua frente. Licença novamente, e afastei a cadeira com a bolsa marrom. Sorrindo, pegou a bolsa e colocou entre as pernas. Pernas cobertas por um social preto. Começamos a conversar sobre Otelo, seguimos para Garcia Marques, e logo chegamos à novela da Globo, onde começamos a rir. Iniciamos uma disputa de respostas rápidas que me fazia querer ficar um pouco mais.

Então o telefone tocou. Os amigos já estavam no bar, mas ainda caretas. Pedi a terceira licença e me levantei. Não peguei telefone nem deixei o meu. Não combinamos um novo bate-papo. Apenas dei um beijo no rosto e sai. Sai com a certeza que, se combinado, se com intenção, não teria tido a mesma graça. Assim descobri uma amizade com começo, meio e fim.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Pessoas que são um porre

“A gente tem que ser feliz. Nem que seja na porrada!”. Esta frase não é minha, é da Dercy Gonçalves. Confesso que se ela não tivesse morrido, eu assumia como minha. Achei uma maravilha! Oscar Wild, Shakespeare, Coppola, Peter Drucker... Ninguém falou algo tão sábio e com veneno na pitada certa!

Gente que se porta como infeliz é um porre. Ter momentos de infelicidade é perfeitamente aceitável. “Tristeza não tem fim, felicidade sim”? Pode ser. Mas daí a não brigar e reconhecer a própria felicidade... Que saco! Quantas vezes não estive em frente a alguém com tudo para ser feliz, mas só reclamava? Juro. Tive vontade de dar porrada. Não o fiz pois achei que seria incoerente, que talvez a pessoa ficasse ainda mais infeliz. Quem sabe estivesse errado.

Eu apanhei muito para ser feliz. Tenho um grupo seleto de amigos que podem me encher de porrada – desde que com argumentos -, que só me ajudam. Meu lema de hoje é ser cuca fresca. É não reclamar do desnecessário. É não brigar pelo que não vale. Mas, para chegar aqui, levei muita porrada dos amigos. Sim! A gente tem que ser feliz. Nem que seja na porrada!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Volta da Censura

O blog foi censurado. Mandaram educadamente que o ultimo post fosse sumariamente deletado. Se antes da publicação o post havia sido aprovado, depois de online recebeu ressalvas. Evidentemente, a fato deixou meu dia bastante mais divertido. Até pelos motivos apresentados para a retirada do texto. Achei justo, e o deletei depois de bastante risada (da “me achei vítima”, também).

Conversando com a pessoa em questão, e dizendo que a censura seria exposta, a pedi uma receita de bolo para publicação no site. Para piorar, a “me achei vitima” não sabe cozinhar. Em forma de repúdio à censura neste blog, segue a receita de um delicioso bolo de chocolate encontrado no site da Ana Maria Braga.

Ingredientes:
5 xícaras (chá) de açúcar refinado
8 gemas500g de margarina
3 xícaras (chá) de chocolate em pó
5 xícaras (chá) de farinha de trigo com fermento
1 e meia xícara (chá) de leite8 claras em neve

Modo de Preparo:
Junte tudo e coloque no forno por 50 minutos.

* Sra. “me achei vitima”, continua sendo querida

terça-feira, 15 de julho de 2008

Online e offline

Voltei a trabalhar com o MSN online depois de quase um ano e meio. Primeira mudança é que contatos antigos, que mantinha só pelo MSN, estão de volta. Pessoas que trabalharam, estudaram ou tiveram uma boa relação comigo. Tinha esquecido o quão bom é estar disponível a eles, e eles a mim.

A segunda será o barateamento da minha conta telefônica. Marco meus bares, cafés, jantares ou compromissos profissionais por ele. Como meus contatos vêm de comunicação, e estes loucos ficam sempre online, ficou fácil. Fui eu quem, por um ano e meio, precisei virar um chato sem MSN. Que bom que to de volta.

Mas ter ficado tanto tempo usando o MSN apenas durante a noite foi bom. Antigamente não sabia deixar ele desligado. Hoje é fácil. Basta que ele dê indícios que vai me atrapalhar. Descobri que a regra que assumi pra minha vida serve até mesmo para futilidades como o MSN: atrapalha ou não me faz feliz? Só ficar offline.

Sambar com um bolero

Ontem fiquei surpreso com o novo som do Alexandre Pires tocando nas principais rádios de São Paulo. É aquele pagode de cinco ou seis anos atrás, que hoje toca em poucos bares e nos mata de saudade. Também ouvi uma sonora com a chamada do show em que o Katinguelê vai gravar seu DVD. Lembrei, então, que o Exaltasamba está na televisão pela Som Livre, se não me engano. Que bom.

Pagode assim, que nos faz dançar sentado na mesa e que não nos agregam em nada fora aqueles três minutos bons, faziam falta a mim. No meu circulo de amigos, já não tenho companhia para bares de pagode. Minto. Bel me apresentou uma garota que adora o som e combinou comigo um desses. Isso é bom, depois de ter ouvido de amigos que tenho cultura suficiente para deixar de gostar deste tipo de som.

Pouca cultura não é coisa de quem escuta e curte pagode de qualidade duvidosa. Pouca cultura é não ser eclético o suficiente para encontrar o bom em tudo que temos para viver. Pouca cultura é tentar separar o joio do trigo, mesmo sabendo que muitas vezes isso é burro. Pouca cultura é se oferecer uma chance a menos de ser feliz, justamente por pensar que tem muita cultura. Cultura, neste caso, é sambar com um bolero.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Programação normal

Quando este blog estreou, achei que ele devia estar alinhado aos meus novos objetivos de vida. Descobri que é mais fácil ser feliz se não falar da minha vida em nenhuma linha desta página, mas apenas às pessoas certas. Posso falar das coisas boas do mundo, mas somente isso. Fui contra as minhas regras, propositalmente, nos últimos posts. Achei que era justo o carinho à uma amiga e um pedido de desculpas a outra. Mas agora, voltamos à programação normal.

A paciência de quem tá put#

Ela ficou put# da vida. E com razão. Combinamos que eu ligaria para marcarmos um bar para jogar conversa fora. Cansado, decidi ficar em casa e não liguei para falar se topava ou não o bar. Também não respondi uma mensagem recebida, pois a notei tarde demais. Ela ficou put# da vida.

Hoje, disse que, se fosse comigo, eu também ficaria put#. E com razão. Quando ficamos assim mais velhos, um pouco da paciência vai embora. Estas amigas mais velhas – ou maduras, tem me ensinado e me permitido isso. Esta falta de atenção, ou até mesmo amizade, se torna cansativa. Joguinhos, então, são um saco. Juro que não deixei de ligar por joguinho. Uma amiga de balada, outro dia, disse que não faz jogos de maneira consciente, pois tem mais de 16 anos. Gostei da colocação. A sigo desde que nasci.

Fui egoísta ao não telefonar. Ficar em casa, naquele dia, era prioridade. Mas acho que seria no mínimo elegante ter avisado. Simpática como poucas, rindo, disse que dará uma segunda chance. Acho que amizade é isso. Entender que as pessoas de vez em quando agem de forma estúpida, se posicionar, e depois sorrir. Isso é maturidade. A mesma da amiga da balada.

domingo, 13 de julho de 2008

Bonita, inteligente e AMIGA

Adoro a Isabel*. É uma amiga que nunca teve nada comigo, e nunca terá. Mas a adoro de forma linda. E sei que a recíproca é verdadeira. Para beber com ela, abro mão de muitos programas. Por que este post? Por conta do bar de hoje. Acabei de deixar a dama em casa. Antes, vivi algo engraçado.

Resolvemos ir a algum bar para bater papo. No caminho, duas garotas de um carro que esperava o semáforo abrir me olhavam. Disse que, se queriam olhar, deviam também pedir meu telefone. Pediram, passei, e me ligaram. A Isabel é tão amiga, que se diverte com estas situações. Riu.

Chegamos ao bar e a surpresa: bar de pessoas bonitas em busca de pessoas bonitas. E nós dois lá: arrumados, perfumados, mas juntos. Parecíamos namorados. Se pudéssemos, escreveríamos na testa “somos apenas amigos”. Nem precisou. As mesas ao lado – as que interessavam, percebram.

Linda essa amizade sem ciúmes. Que nasceu quando éramos chatos reclamões, e que vive agora com mais força, quando já não temos do que reclamar. Linda essa amizade assim. Que desfruta do melhor da fase que vivemos, mas nunca esquecendo de tudo que passamos juntos. Tudo que nos trouxe até aqui. Linda...

* crônica publicada depois de uma autorização prévia da Isabel

sábado, 12 de julho de 2008

Paz, amor e sacanagem

“O Bon Vivant” é uma delícia, pois é um espaço onde posso escrever crônicas que chamo de alto astral. Mas com ele meu vazio continua. Minha paixão pelos contos não pode ser atendida por ele. Contos que tenham como base a paz, o amor e a sacanagem, menos ainda. Por mais que isso seja coisa também de um bon vivant.

Em breve, “Paz, Amor e Sacanagem”. Um blog sem data para o primeiro post, mas que certamente será antes que imagino. Ele terá uma única regra, mas que não poderá – em hipótese alguma, sem quebrada: personagem nenhum terá regra.

Se procura paz, amor, sacanagem, ou tudo junto, acesse: http://pazamoresacanagem.blogspot.com/

Quem corre é mais feliz

“Quem corre é mais feliz”, é a legenda de uma das fotos de uma garota que encontrei na comunidade Viciados em Corrida, no Orkut. Pela foto, me arrisco a dizer que marido de quem corre é mais feliz. Mas ela tem razão: quem corre certamente é mais feliz, mais saudável e menos estressado.

Tenho muitos amigos mais velhos, que chegaram a mim devido ao trabalho, livros, bebidas ou charutos. Impressionante, mas todos os que estão casados ou namorando há anos tem o perfil parecido. Estão barrigudos, com os cabelos caindo, reclamando da parceira, dos filhos e dizendo que trabalham demais. Não quero ficar assim, mesmo sabendo que quase fui.

Correr é a antítese das pessoas acima. Os casados que correm tem outra vida. Não falo dos que correm em conversas, mas dos que correm em pistas ou praias. São pessoas melhor cuidadas, seguras e acostumadas a se mimar. Assim, não aceitam uma vida que não tenha relação a isto. Trabalham demais, assim como todos, mas não reclamam. Vivem muito bem durante o trabalho.

Determinada pesquisa informa que 74% dos corredores de rua são solteiros. Gosto de números, mas entender o que querem nos dizer é ainda melhor. Imagino que, quando namoramos, ficamos realmente desleixados. Sou a prova viva disso. Imagino que, quando solteiros, temos mais motivos para correr e nos cuidar. Sou a prova viva disso. Acredito, por fim, que quando corremos com regularidade, nosso corpo passa a gostar mais de nós mesmo, e assim nos dá mais saúde para viver feliz. E, mais uma vez, sou a prova viva disso.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Solteiro

Quando pequeno tinha medo da noite. Moleque, tinha certo asco de pés. Hoje, a noite é uma grande amiga e os pés femininos uma surpresa bem vinda. Com o tempo e as experiências que vivi durante ele, mudei muito. Um ano atrás, ouvia de amigos que imaginar o João solteiro era difícil. Hoje, ninguém me vê namorando tão já. Nem eu espero por isso.

Mês passado fui à Sorocaba para almoçar com uma nova amiga, e ouvi dela que não namorarei tão cedo. Que via nos meus olhos a alegria de ser solteiro. Tenho ouvido o mesmo de muitos e muitas. É verdade. Solteirice é um estado. Talvez, um estado de amor. Um amor bonito e sem egoísmo, pois pode ser dividido entre muitas pessoas.

Não troco a vida que descobri se não for por alguém que consiga me fazer mais feliz que estou hoje, só. Não tenho hora para as coisas, não tenho obrigações por telefonemas, não me preocupo em procurar bons programas para o fim de semana, não se sinto desconfortável em passar uma noite de sexta-feira em casa assistindo a algum filme na televisão.

Ao mesmo tempo, estar solteiro me apresenta pessoas deliciosas. Cabeças inteligentes, sorrisos novos e olhares que ainda não conheço. Neste período voltei a freqüentar shows, aprendi a dançar - melhor: balançar o corpo; Descobri novos estilos literários e companhias que não são lugar comum. Ou seja: a vida de solteiro é deliciosa, e nem de longe é solitária.

Mas ela nos prega peças. Uma hora, sem mais nem menos, alguém pode nos tirar deste estado. Enquanto isso não acontece, a dica é ser muito feliz aproveitando a vida de solteiro. Quando esta fase acabar, a dica é entender que namorar é maravilhoso, mas apenas se abrir mão da vida de solteiro.

Fecho esta post com um pedaço de uma música do Roupa Nova. A escolhi pois foi um duplo presente. No meu aniversário uma amiga me levou ao show. Semana passada, durante um show no bar que canta, outra amiga dedicou um pedaço dela a mim. Qual pedaço? O que dedico a todos os colegas de solteirice: “Meu coração é novo e corre o risco de encontrar alguém que saiba mais de mim. Que diga ‘agora sim’. Que voe bem mais alto sem medo de errar”. Pois é. Que não se erre – solteiro ou não.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Nem tudo é singular

Ri, de forma ridícula, nesta segunda-feira. Inventei férias de segunda e terça e fui para praia junto com um amigo, um charuto e uma vodka com energético. Sai de São Paulo deixando todas as propostas que tinha para aquela noite.

Ri, de forma ridícula, ao perceber, nesta segunda-feira, que tudo o que deu errado na minha vida me tornou alguém muito feliz. Que existem pessoas que entram na nossa vida, trazem com elas a maior tragédia, mas depois, quando saem, deixam a paz e as grandes lições. São como as grandes tempestades seguidas de bonança.

Ri, de forma ridícula, ao acertar a minha vida em tão pouco tempo depois de ter encontrado o que quero dela, mas com tanta demora a partir do momento que comecei a agir como pessoa. Ri, de forma mais ridícula ainda, ao perceber que a tempestade normalmente é singular, e a bonança plural.

domingo, 6 de julho de 2008

As damas do café

O novo longa do Hulk é bastante ruim, mas conta com uma colocação de um dos personagens que tenho usado ultimamente. Ao conhecer o novo namorado da filha, o coronel se pergunta “onde ela conhece estes caras?”. Tenho usado esta frase por brincadeira quando falo de parte do meu passado recente, de tal modo que ela se tornou assunto. Afinal, onde conheço estas garotas*? Por que elas?

As perguntas já têm respostas, mas é o que menos interessa para este blog. O que realmente importa é o desdobramento da resposta. Junto a um amigo, cheguei à conclusão que, se você quer casar, deve freqüentar ainda mais as livrarias e os cafés. Ali você encontra pessoas interessantes. Se quer facilitar, procure livrarias com cafés. Quer ir mais longe? Alguma ao lado de um parque. Encontrou uma garota com livro do Dimenstein em uma mão, café na outra, e um tênis de corrida, corra e roube um beijo! Mas corra, mesmo! Quem sabe outro leitor do blog não estará lá, também?!

* Lembro que isso é uma crônica e não fala especificamente de uma ou duas pessoas. Em sua maioria, devo confessar que ultimamente tenho conhecido pessoas melhores que a personagem do café.

sábado, 5 de julho de 2008

Palavras, palavras e... Palavras

Acredito que os verdadeiros alquimistas são os que transformam tinta, quando em contato com o papel, ouro. Sou um apaixonado pelas palavras. Podem estar em música, poesias, contos, livros ou bulas de remédio. Desde que combinadas, me levem a ficar sem palavras.

Com o Paulo Autran, entendi que textos, quando expressos com emoção na voz, se tornam ainda mais ricos. Em sala de aula, propus que meus alunos declamassem poemas ou letras de música. Fiquei bobo ou perceber que não se sentiram mal com a idéia. Declamar bons textos, além de nos trazer bagagem, nos torna ainda mais humanos. Humanos, pois o contato com as palavras nos faz pensar e sentir.

Junto a uma amiga, hoje tive a oportunidade de passear por alguns textos que me são caros – e ela não sabe o quanto sou grato por isso. Vinícius de Moraes, Diogo Mainardi e João Riva. Os meus, confesso, foram lembrados por serem meus. Não tem a genialidade dos demais, nem a pretensão de ser. Querem apenas ser texto. Mesmo que apenas texto.

As palavras, quando em mãos dadas, me fascinam. É uma cena de novela, uma página de um livro, uma boa frase solta ao vento... Mario Lago, segundo um amigo, era o gênio das grandes frases soltas ao vento. Marilia Gabriela, a meu ver, a dona de uma das mais lindas cartas de amor (enviada ao então namorado, o escritor Mario Prata).

Para todos, as palavras tem a função de organizar, identificar e comunicar. Para muitos, tem também o dom da magia. Para alguns, também cheiro e cor. Para mim, também o silêncio de quando ficamos completamente mudos. Sem palavras.

Um bom café

O que acompanha um bom café, senão uma companhia sedutora? O café, por si só, é algo que seduz. O aroma, o gosto amargo – vezes mesclado com açúcar, e todo o ritual que o envolve. Mas a companhia sedutora é fundamental. Tenho a encontrado frequentemente, até mesmo quando estou só ou com um bom livro.

Como qualquer bebida, qualquer hobby, café tem sua singularidade e seus momentos. Caipirinha se bebe com amigos, em bares ou churrascos. Normalmente locais onde se fala demais, mas sem conteúdo. Whisky acompanhado de charutos se harmoniza com longas conversas com conteúdo. Sugiro que seja em casa, na tabacaria, ou com dois amigos em um bom bar. Já o café... Ele é sedutor.

Passar uma noite de sábado em um café não é para qualquer um – mesmo que seja apenas o começo ou o fim dela. Sem álcool, sem músicas agitadas ao fundo, sem uma banda tocando... Ou a companhia tem uma cabeça sedutora, ou o assunto não rende. Não adianta ser linda, usar os melhores perfumes... Tem que falar e saber falar. Fazer que o ambiente fique tão sedutor quando o melhor café. Ah... O café...

terça-feira, 1 de julho de 2008

Pequeno adendo

Faço um adendo* do post abaixo. Não quero levar ninguém ao vício, mas vale a informação. O ambiente descrito anteriormente, levando em conta o custo-benefício, é de graça. Com oito reais é possível aproveitar longos 30 minutos com um bom charuto, ao lado de ótima companhia e música da melhor qualidade. Não é um lugar para passar a noite, mas para se preparar a ela.

* Ricardo, obrigado pelo telefonema de alerta. Também acho justo desmistificar este prazer.

Tabacaria Ranieri

Tenho amigos realmente diferenciados. Pessoas com um nível cultural que me fazem sentir pequeno. Os assuntos jogados em cada mesa são instigantes na medida certa. Como imaginar que falar de Miró pode ser uma delícia? Com a companhia certa, garanto que é. Na mesa certa, melhor ainda.

Uma das grandes descobertas deste tempo de solteiro é a Tabacaria Ranieri, na Al. Lorena. Comecei a freqüentar sozinho, sentado no balcão com um copo de whisky e uma cigarrilha. As pessoas ali, todas anônimas - mas de uma simpatia ímpar - me fazem voltar duas ou três vezes por semana.

Maria, e “vendedora” que sempre escolheu minhas cigarrilhas, apresentou sem querer a Amanda, que certa quarta-feira se sentou ao meu lado, no balcão. Hoje é uma companheira singular para bate-papos. Com ela, aos poucos, venho me apaixonando pelos charutos. E, quando invento de me apaixonar por uma coisa, me dedico. Hoje tenho todas as ferramentas para degustar um bom exemplar.

Tanto a Amanda quanto os demais amigos de tabacaria me tornam uma pessoa pouco mais tranqüila. Ali as conversas são deliciosas, o os produtos oferecidos mais ainda. Acabei de chegar em casa, depois de deixar um amigo e dar um pulo por lá. O cheiro de fumo é forte, a sensação de paz ainda mais. É um lugar onde posso fumar sem incomodar a ninguém. Fora de lá, ao lado de qualquer pessoa, não fumo. Acho que é uma questão de respeito a quem não gosta. E lido bem com isso.

A idéia deste post é o conta-ponto que esta tabacaria me oferece. Nunca gostei de cigarro, não sentia atração por bebidas pouco mais forte ou conversas cabeça demais. Em pouco tempo, não vivo mais sem isso. Claro que falar besteira, virar uma caipirinha e rir da vida alheia continua sendo uma delicia. Mas, agora, conhecer este mundo tão instigante me fez bem. É um vício bom. Vício de pessoas bonitas e bem cuidadas – por mais que fumem. Vício de ser bem tratado e me sentir bem só. Vício de pensar sobre coisas que realmente me acrescentem. Mesmo que apenas um possível câncer de pulmão.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Caretas por obrigação

Obrigaram-me a trocar a cirrose pelo câncer de pulmão. Pizza com vinho (talvez um Periquita), bolinho de arroz com uma caipiroska (talvez de maracujá), um longo bate-papo com um whisky (talvez um Buchanan´s). Tudo proibido, à não ser que venham de táxi.

Sendo assim, troquei as noites em bares por madrugadas nos cafés. Sexta em um, sábado em outro (ambos da mesma rede). Mas, se não posso apreciar algo com um pouco de álcool, voltei a degustar algo com fumo. Voltaram às cigarrilhas, os bafos de charuto e a sobriedade chata dos caretas por obrigação.

A vida ficou mais barata, já que os valores cobrados pelos cafés são justos, e a caixinha de Dona Flor seja mais em conta que um copo ao meio. Mas ela – a vida - perdeu muito da sua magia. Nada de jantar acompanhado de vinho ou uma longa conversa com os amigos apreciando uma garrafa de 12 anos.

Troquei o álcool pela cigarrilha, os petiscos pelos cafés. As longas e talvez chatas explanações sobre estudos com whisky foram substituídas por histórias que sempre valem ser contadas ou ouvidas. De forma autoritária, aprendi que tudo pode ser substituído – o que é ótimo. Basta que precisemos ou que o governo imponha.


sexta-feira, 27 de junho de 2008

Um novo bon-vivant

Confesso que o Bon Vivant nasceu há dois meses com um propósito bastante divertido. Falar da relação entre homens e mulheres a partir da perspectiva de amigos ou de mim mesmo. São visões – no mínimo – interessantes de como as relações funcionam na vida real, daquelas bem diferentes das que sonhamos. Mas nem por isso relações tristes. Ao contrário: divertidíssimas e de cuca boa. São as que descobri nos últimos meses. São as que fazem com que amigos me olhem e digam “bon vivant”, mesmo que não saibam ao certo o que ou como é isso.

O projeto ficou engavetado por conta do conteúdo dos textos. São histórias que em bares dão muito certo, mas para o formato blog ficariam tolas. E, se for para desmerecer uma boa história, é melhor que ela fique de canto, quieta, esperando um bom bar para sair do seu baú. E também por conta de uma amiga que, ao saber do conteúdo do blog, fez uma comparação de dar medo. O teor dos meus textos do passado, e a vontade de bagunçar agora. De uma forma ou outra, resolvi preservar as coisas que mais amo: meus textos e minhas idéias.

Mas para tudo dá-se um jeito. O blog continua, mas com foco diferente. Falarei do bom da vida. Do que temos de bom por ai. As músicas, grandes shows, vinhos e whiskys, cigarrilhas, corridas de rua, e tantos outros. Sentirei falta – muita – do ácido dos textos originais do Bon-Vivant. Mas... Temos alguns bares pela frente, não é?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Hoje, mais que qualquer outra data, vale um texto do Vinícius de Moraes. A partir deste textoudarei início ao blog. Afinal, Vinícius é sempre Vinícius. Meus amigos de verdade, sempre meis amigos de verdade - e que amigos...

"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor. Eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências. A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. É delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí." Vinícius de Moraes

sábado, 21 de junho de 2008

23 de junho de 2008

Não é por acaso que o primeiro texto do "Os Bon-Vivant" será postado na segunda-feira, dia 23 de junho - meu número da sorte. Mas vale falar um pouco deste blog: é a mistura da fome com a vontade de comer. Por um lado, há meses quero escrever sobre a cabeça dos homens e suas relações com as mulheres. Estes textos serão escritos em forma de crônica, cujo personagem central é o Caio - um verdadeiro bon-vivant. Ao mesmo tempo, posso voltar a escrever sobre as coisas boas da vida, e de como ela poderia ser mais fácil, se analisassemos cada uma das suas facetas pela forma mais simples. Estes textos serão meus, e neles o Caio não terá participação alguma. Ou seja, o blog é duas vezes meu. Sendo que, vez ou outra, é do Caio.