sábado, 30 de agosto de 2008

Um péssimo hábito mundano

Casa da sogra foi bem antes. Agora tava virando um puteiro. To falando do meu Orkut, mesmo. Tive que ir contra tudo que acredito e bloquear acesso. Coisa triste para um cara que sempre foi bastante acessível e nunca colocou barreira para pessoas. Mas tive que fazer.

Minha relação com Orkut é gostosa, pois nele concentro o que tenho de mais valioso: as pessoas que realmente amo. Com ele mantenho meus relacionamentos de amizade, troco mensagens com pessoas queridas e fico sabendo de datas que são importantes: os aniversários das pessoas que me fazem bem.

Justamente por isso, meu Orkut é meu. Não deixo que desconhecidos me adicionem e não adiciono a eles. Quem está lá tem alguma história que viveu comigo para contar. Ela pode ter sido boba, durado alguns segundos, mas existiram. Ali não vejo fotos de rostos sorridentes, mas a minha vida, minhas histórias e a possibilidade de viver novos momentos bons junto a eles.

Sou um doido apaixonado por pessoas, e por elas tenho o maior respeito. Este é o segundo motivo para cuidar de quem faz parte do MEU Orkut. Seria justo colocar a namorada e os grandes amigos no mesmo saco dos que aparecem ali apenas por aparecer? O Okut tem o péssimo hábito mundano de transformar pessoas em números. “meus amigos (419)”? Preferia apenas “meus amigos”.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Um amigo gigante

Meus amigos não tem defeitos. Tem características. Por ai dá pra entender a relação que tenho com eles. São parte importante da minha vida. Importante? Fundamental! A ausência deles, quando por muito tempo, causam certo estrago. Talvez por isso os dê tanto valor. E, justamente por isso, recebo de troco a mesma moeda. Nem mais nem menos. Tenho, realmente, amigos diferenciados.

Estava trabalhando quando Felippe me chamou no Messenger. De Londres, escreveu que estava breaco por conta de uma garrafa de vinho. Por conta disso, com muita saudade. Completou que volta em dezembro e preciso estar no aeroporto. Estarei... Lembro quando fez um churrasco de bota-fora. Viajaria junto com o KK, um irmão de fé, risos e todas as boas coisas da vida (sabíamos viver...). De presente, dei um livro: “Como conviver com um idiota”. Devem ter lido por algumas vezes. Moram juntos até hoje e não temos divórcio à vista.

Com o Felippe tenho grandes histórias. As pizzas do Aerobeer, as noites nas baladas fáceis (bota fáceis nisso), as reuniões do TCC que sempre começavam com picuinhas e terminavam com risadas, os pagodes, as viagens para os JUCAs e todas as confusões que nos metíamos por lá... Mas, de verdade? Nada marcou mais que a noite em que apresentamos nosso TCC. Com orgulho, afirmo que o palco da Gazeta ficou pequeno. Estávamos, verdadeiramente, gigantes.

Dividir o palco com o Felippe, mais que uma obrigação, foi mágico. Parecia ensaiado: as piadas, as risadas, o desfile e até a dançadinha. No palco, estávamos em casa. Não parecia um TCC, mas uma grande festa com direito a risos dos convidados. Acabamos a apresentação como deveríamos: chorando como gente grande. Chorando porque, com apenas vinte e poucos anos, já sabíamos que o bom da vida não é o destino, mas a estrada. E... Como a estrada foi boa...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Um post supérfluo

Comecei com cigarrilhas, depois passei aos charutos. De princípio, uma vez na vida outra na outra vida. Hoje confesso certa regularidade. Charuto, para muitos, é algo sedutor. Para mim é um ritual romântico. É abrir, furar com cuidado, acender com uma palha (quando tenho a palha) e cuidar para que o tempo passe de forma lenta.

Amigos não tão próximos dizem que fumo por charme. Talvez tenha até vivido esta fase, mas certamente já passou. Costumo fumar só. Entro na Ranieri, pego um Dona Flor, fecho a porta do carro e saio por ai. Sou contra fumar em casa. O romantismo típico do charuto desaparece quando em casa. Gosto de fumar em cafés. Harmonizando com a namorada na praia, um Dona Flor fico delicioso.

Charuto, por si, pede respeito, pede cuidado. Não se fuma na balada, não se fuma em locais que possa incomodar aos demais. Se fumo para ter prazer, não posso tirar o prazer dos outros. Então, opto por também fumar em tabacarias. Lá, asseguro que o prazer do charuto é dobrado. Estou na sua casa, ao lado de pessoas que o respeitam da forma que ele merece.

Um post sobre charuto pode parecer demais supérfluo. Não para mim. Mais que um prazer ou um estilo (como pensam alguns), é uma forma de encarar o dia a dia. O charuto, duas vezes por semana, serve como um companheiro fiel. No fim do dia, seja com a namorada, sozinho ou com amigos, ele estará lá. Com seu furador, sua palha, seu cortador e todo seu carisma.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A menina do trem

Existe uma propaganda de carro que me marcou bastante. Um rapaz caminhava ao lado de personagens de desenhos animados e outros do gênero até entrar em um esportivo mais sério. Então o locutor falava algo como “a sua vida te trouxe até aqui”. O conceito da propaganda é genial. Hoje me sinto como o homem que abre a porta do seu carro.

Quantos medos, quantas pessoas ruins, quantas tardes de tempestade e quantos gritos? Mal sabia, mas foram estas linhas tortas que me trouxeram para onde estou. Quantos beijos? Quantos abraços quentes? Quantas risadas em mesas de bar? Quantas lágrimas que fugiam sem pedir desculpa? Mal sabia, mas foram estes momentos que, somados aos outros, me fizeram o que sou.

A vida tem me ensinado bastante. Uma das maiores lições é que ela chega sem pedir licença, faz o que bem quer e se coloca de lado, como aquela menina manhosa da estação de trem... Depois, reparamos que ela ajeitou tudo. Colocou cada coisa em seu lugar, e que agora é sua vez de continuar. A vida, somada a tudo que vivi, me trouxe até aqui.

Tenho ouvido muitas coisas e conversado com pessoas. Ouço histórias aos montes, até mesmo porque gosto de contar as minhas. Noto que a vida é uma mãe. Pode ser dura, pode nos colocar de castigo, mas sempre nos acolhe. Hoje agradeço a esta mãe por tudo de bom e de ruim que passei. Somente tendo vivido tudo aquilo, tenho a cabeça boa para decidir e viver tudo de bom que esta mãe ainda tem a me oferecer.

PS. um amigo diz que todos meus posts tem o mesmo objetivo. Um simples “seja feliz”. Acho que a idéia é essa. Ao falar de relações humanas, torço por relações gostosas. Tão gostosas quanto as minhas. Pois é, meu amigo... Seja feliz.

PS2. Escrevi este post em 4 minutos, cronometrados. Ele não é um post, mas um texto que diz “sim, o blog está vivo”. Amanhã ela volta ao seu normal.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Um pouco mais de todo mundo

Sou privilegiado e nunca neguei isso. Como outros tantos, percebo diariamente o quanto sou amado e o quanto sou querido. Melhor é saber que estes tantos que me querem recebem o sentimento de volta. De volta? Não. Recebem algo único, renovado. Falo não só da minha família, namorada ou amigos, mas também das pessoas comuns do cotidiano. O manobrista do estacionamento, os garçons dos bares de sempre e os colegas de trabalho.

A diferença que noto entre amigos e eu, é que tenho consciência do privilégio em ser querido. Querido e amado, na verdade, todos o são. Entender que o é e aceitar e viver esta situação com graça que é para poucos. A verdade é que é difícil amar, e ainda mais complicado se entender amado. Nos dois casos, somos levados a ceder, a relevar e a assumir. Noto que, quando respondo positivamente a uma atenção, quando me coloco a disposição, ainda causo certa surpresa.

Nos estacionamentos, meu carro sempre é o primeiro a chegar. Nos bares, minha mesa normalmente é a de melhor atendimento. Meus amigos nunca negaram atenção ou um longo bate-papo. Percebo que, ao oferecer atenção a todos, todos voltam sua atenção a mim. Ao ser simpático, recebo simpatia em dobro. Mais bacana que isso, descobri que ao amar aos outros, eles perdem o medo de também amar. Amar, simplesmente, no sentido de ser um pouco mais eles.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Os meninos de 59

Tabacarias são lugares especiais por conta das pessoas que a freqüentam. Normalmente, gente diferente, que fala, que pensa e que sabe ser feliz. Agenor é uma destas figuras que vêm à memória quando lembro a tabacaria do centro. Aos 92 anos bem vividos, cirurgião aposentado, é apaixonado pela dona Luiza, sua esposa mais jovem – talvez uns 90 anos também bem vividos.

Na tabacaria, Agenor era minha companhia preferida. Conversávamos de tudo, mas principalmente sobre o futuro. O futuro que esperava por ele e por mim. Dois jovens que, com a idade somada e dividida, chegavam aos 59 anos. Idade perfeita para pensar no que a vida ainda tem a oferecer. Na ultima conversa, juntamos 4 pessoas para lembrar Gonzaguinha. Com aquela voz cansada, Agenor sabia como cantar “Você Merece”, uma referência ao passado que já não valia tanto. Havia realmente passado.

Era sempre o ultimo a ir embora. Talvez fosse o primeiro a chegar, também. Quando saia antes de mim, era porque a “menina dos seus olhos” (como chamava Luiza) o chamava. Tinha orgulho em, depois de 60 anos de casado, ela dizer ao telefone que ele precisava voltar para casa para matar as saudades dela.

Vez em quando a realidade pode ser mais bonita que realmente é, por isso, digo a todos que Agenor largou o tabaco. Parou de fumar e de fazer planos para o futuro. Luiza agora terá que se entender com a saudade e suas lembranças, não podendo pedir arrego, que Agenor volte para casa. Agenor, desta vez, resolveu mudar o rumo da história: não quis ser o ultimo a ir embora.

OBS. Este foi o post mais difícil, o que mais provocou sensações contraditórias. Agenor faz e continuará fazendo grande falta. Não só pela sua alegria, sabedoria e delicadeza com as pessoas e as palavras, mas pelo exemplo de pessoa feliz, que não encana com problemas pequenos. Sinto falta de Agenor e dor por Luiza. Tenho certeza que, aos fechar seus olhos, a “menina dos seus olhos” se apagou junto a eles.